segunda-feira, 27 de julho de 2009

Série Naftalina - Poeminha de adeus

Neste minuto, sabe-se-lá quantos mil textos estão sendo escritos para serem guardados no fundo de alguma gaveta, caixinha de cartas ou pasta de computadores pessoais. Muitos deles não terão um único leitor - além de seu próprio autor. Quem nunca fez isso?

Ontem minha amiga Mari me ligou para falar de um ex-namorado meu. Parque da cidade. Domingo de manhã. Ela fazia cooper com um amigo que o conhecia.

E o que isso tem a ver com a minha coleção de textos esquecidos no fundo da gaveta? De uns anos pra cá, sempre que um relacionamento chega ao fim, sinto uma vontade quase visceral de escrever um poeminha. É o meu jeito de celebrar o fim. Minha mensagem para colocar sobre a lápide.

O texto a seguir tinha tido até este momento um único leitor. O mesmo que a Mari encontrou durante a sua manhã esportiva no último domingo.

Bom mesmo é saber que tudo passa, e que os poemas podem um dia sair da gaveta...


Chegou em silêncio e entrou sem bater
Ofereceu a janela do mundo que levava no bolso
E, em troca, ficou com a chave da porta.

Forrou a cama com o seu cheiro,
Limpou os cinzeiros de lembranças,
E fritou um tabuleiro de sonhos.

Adormeceu o meu cansaço
Ninou o meu prazer
E acordou o meu querer
Com o desejo, fez chá de insônia.

Meia-noite, um litro e meio de insônia,
Pela porta entreaberta, o amor entrou, travesso,
E se alojou – sem permissão.

Você dormia e não viu
Ele riu
E me virou do avesso.

Agora era só ilusão
Cupido desajeitado não te deu a mão
E eu, nos seus braços, lua minguante:
O amor por um triz.

O medo quis despistar,
Tentou cobrir-me com um sonho barato,
À venda num bazar de atacado.

Em vão...
A coberta era curta
E a realidade esfriava os meus pés,
Indicando um caminho diferente do seu.

Mas um dia, o medo tomou fôlego,
Distraiu o coração afobado,
E tramou um destino para o amor.

Juntou todas as suas dores e fugiu.
Depois, de mãos dadas com a esperança,
Vedou a porta
E ligou o gás.

4 comentários:

  1. Que final surpreendente! Eu sou mais clichê. heheh

    Bjoks!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ei Pandora, a caixa já se abriu? Lembre-se que, de todas virtudes perdidas, ainda sobrou a esperança. Muito bom o poema. Unidos contra o sedentarismo-criativo-alienante. Abraços!

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  4. Por favor volte a postar!

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